A Chery declara uma velocidade de 130 Km/ para qualquer QQ, tanto o 0.8 quanto o 1.1. O antigo 1.1 com motor Dongan também tinha indicada essa mesma velocidade máxima.
É óbvio, portanto, que este indicativo de 130 Km/h está diretamente determinado por outros componentes do carro, em especial a suspensão. Não apenas as molas do QQ são macias, mas também seus amortecedores são macios, afinal, foram especificados para as molas originais. Tudo ao gosto do condutor médio chinês.
O sistema de direção do QQ, por incrível que possa parecer, também acaba contribuindo indiretamente para a instabilidade do veículo. A desmultiplicação da direção do QQ é bem pequena (isto é uma característica, não um problema), fato que, associado às pequenas largura e comprimento do veículo, tornam a dirigibilidade urbana do carro excepcional (a melhor que já conheci). Basta dar meia volta no volante e já dobramos a esquina. Um toque no volante e mudamos de faixa. Esta característica foi pensada para a cidade (ou para um chinês que rode devagar na estrada). Em uma rodovia, por outro lado, esta desmultiplicação pode (ou poderia) ser comparada a de um carro esportivo. Aquele "toque" no volante que faz trocar de pista com rapidez na cidade, pode resultar em uma capotagem na estrada, se o condutor "bobear". Carros com ótima estabilidade, como uma BMW série 3, também são equipados com direções "diretas" como o QQ. Um Mille, por exemplo, sem direção hidráulica, possui uma desmultiplicação maior, requerendo mais esterço do volante para executar qualquer manobra. Mesmo com direção hidráulica a direção não é tão direta como no QQ. O carro já é mais estável que o QQ, e parece ainda mais. Para efeito de comparação, temos na família um antigo (e precioso) Voyage CL 1.6 1989 com motor AP e sem direção hidráulica. É claro que seu volante é muito pesado. A desmultiplicação também é grande neste Voyage, tentando compensar o peso. Para trocar de faixa em uma estrada precisamos virar bem mais do que no QQ, e com alguma força. As manobras sempre serão mais lentas no Voyage, atenuando a possibilidade de bobeadas (e capotagens...).
O Daewoo Matiz antigo (carro que serviu de "referência" ao QQ) ainda é fabricado no Cazaquistão. Há cerca de um ano e meio, uma revista especializada (não lembro qual, depois vou verificar em minhas coleções) realizou um teste comparativo entre ele e o QQ. O Matiz testado era equipado com um pequeno motor de 3 cilindros derivado dos Suzuki dos anos 90, econômico mas fraquíssimo. A suspensão, por outro lado, era mais rígida que a do QQ, adequada ao "gosto europeu", conforme a publicação. Uma suspensão como essa, aqui no Brasil, seria muito apreciada. A revista elogiou esta suspensão. Mas atenção, toda a suspensão era mais dura e com regulagem diferente, não apenas as molas.
Colocar os famosos buffers no QQ resolvem em parte o problema, tornando as molas mais duras. Mas como fica a questão dos amortecedores macios? Em uma descida de serra, por exemplo, a sensação de segurança possibilitada pelos buffers será falsa, pois o carro poderá pular em algum buraco mesmo antes das molas atingirem o final do curso, como em um velho Jeep. O carro não inclinará muito avisando o condutor antes de, eventualmente, perder a aderência. Simplesmente pulará, como se estivesse com amortecedores gastos (mais fracos). É claro que o carro sacode menos na maior parte das situações, mas isso não significa que a estabilidade melhorou. Qualquer especialista em suspensão sabe que ao trocarmos a especificação das molas (é isto que os buffers proporcionam na prática) precisamos também trocar a especificação dos amortecedores. No caso do QQ, uma revisada nos ângulos de regulagem da suspensão dinateira também seria interessante, buscando atenuar a "rapidez" da dirigibilidade na estrada.
Para complicar ainda mais a situação de estabilidade do QQ, ainda temos a necessidade de aumentarmos a distância do carro em relação ao solo para fugirmos dos quebra-molas. Isto significa buscarmos um centro de gravidade ainda mais alto através de pneus mais altos. E estes pneus mais altos são mais largos, gerando mais atrito e mais trabalho para a suspensão.
É claro que tudo isso requer um trabalho bem aprofundado em vários sistemas do carro. Tomemos como exemplo um VW Cross Fox quando comparado ao seu irmão Fox mais simples. A VW, para compensar a maior altura do centro de gravidade do carro e maior atrito dos pneus, modificou molas, amortecedores, regulagens de suspensão, barra compensadora (a do QQ, localizada na frente, precisaria ser mais grossa), enfim, precisou fazer um trabalho completo de engenharia. E, mesmo assim, o Cross Fox não tem a mesma estabilidade do seu irmão "urbano".
Enfim, o mais simples para a Chery ainda é limitar (ou ao menos sugerir um limite...) a velocidade do QQ. Por tudo isso, 130 Km/h é uma velocidade bem razoável.