As grandes proezas do pequeno chinês

Qual é o melhor nas manobras?
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Ele não tem boa estabilidade?
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O Chery QQ capota com extrema facilidade?
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Podemos facilmente perceber nos dois últimos vídeos que o QQ não capota por desgarrar facilmente, antes de atingir o limite de sua suspensão (e é isto mesmo que se espera de uma suspensão). Ou seja, antes do QQ capotar ele desgarra e não atinge o limite de sua suspensão macia.

A colocação de pneus mais largos, como se observa no primeiro vídeo, faz o carro atingir o limite da suspensão antes de desgarrar. Verifica-se facilmente isto pela elevação da roda traseira interna em uma curva no limite. Observe-se que o carro não desgarrou a traseira no asfalto com a roda no ar, como já verifiquei, por exemplo, em alguns Unos Mille na mesma situação. O QQ só não virou porque o condutor contra-esterçou o volante (observe movimento das rodas dianteiras) e acelerou, alterando a trajetória do carro.

Daí porque sempre vejo com reservas a alteração da largura dos pneus do QQ. Mais borracha, mais aderência, mais fácil chegar ao limite da suspensão, mais fácil capotar. Desgarrada se corrige, capotagem é mais difícil.

O QQ, de qualquer forma, é um carro urbano que pode ser utilizado com reservas na estrada. Tem motor e tem freios para trafegar rapidamente, mas a estabilidade sempre vai deixar a desejar em função do conceito construtivo do carro, a saber: suspensão macia, centro de gravidade alto, pneus estreitos adequados a sua suspensão, eixo traseiro rígido, além de uma direção rápida e leve (adequada a manobras na cidade) que merece atenção na estrada.

Mas que o QQ se saiu bem isso saiu, ele até conseguiu fazer o slalon mais depressa que o Honda Civic!
Quanto a ser fácil de capotar com pneus maiores, eu já sou craque nisso. Capotei uma vez com uma mini-carregadeira Bob-cat mas depois aprendí o truque e nunca mais aconteceu, quando a bichinha empinava uma mudança rapida de direção a recolocava na hora sobre as 4 rodas.
Um abraço.

Então Alex , se mudar pra 175/70/13 vai piorar a situação no caso ?

Em minha opinião, pneus mais largos e altos melhoram a aderência do QQ, além de deixar o carro menos propenso a bater o carter em quebra-molas ou buracos. Mas também vão requerer maior cuidado nas curvas, pois a suspensão do carro não foi projetada para eles. A suspensão é muito macia e, portanto, com um limite muito baixo para chegar ao final do curso.

Alguns carros tem a suspensão projetada para utilizar mais de um tipo de pneu, como, por exemplo, um velho Voyage que está há anos em minha família. O próprio manual indica o 155/80 X 13 e o 175/70 X 13 (ambos tem a mesma altura). Já utilizamos ambos as medidas várias vezes (o carro tem 501.000 Km...) e constatamos que, mesmo com o pneu mais largo, o carro sempre desgarra antes da suspensão atingir o final do curso. Foi projetado para isso. O pneu mais estreito apenas faz o carro desgarrar antes, embora seja melhor na chuva e deixe a direção menos pesada (nenhum Voyage 89 tem direção hidráulica original sob o pesadíssimo motor AP...).

Outros carros mudaram toda a geometria da suspensão para trocar de pneus, como o Uno Mille. Os antigos Uno, lá na década de 80, também indicavam 145/80 X 13 e 165/70 X 13 (mesma altura). Quando a Fiat lançou o 1º Mille, em 1990, optou pelo 145 (mais econômico e mais barato). Este pneu equipou o Mille até 2008, quando a Fiat resolveu modificar a geometria da suspensão dianteira para otimizar a economia de combustível, "fechando" mais as rodas. É claro que isso afetou a estabilidade do carro, exigindo, em contrapartida, modificações na suspensão e mudanças na especificações dos pneus, que passaram a ser os 165/70 X 13. As mudanças na direção compensaram com folga o maior atrito dos novos pneus. O importante, neste caso do Uno, é observarmos que toda mudança não prevista no projeto original de um carro precisa ser resultado de um estudo técnico bem detalhado, pois implica em mudanças muitas vezes radicais de outros componentes do carro.

No caso do QQ, está claro pelo próprio 1º vídeo postado pelo Tosca, o que pode acontecer quando a suspensão do QQ é exigida no limite com um pneu mais largo: O limite da própria suspensão torna-se menor que a aderência do pneu. Na prática, é como se o carro estivesse sem suspensão quando o pneu mais largo (com mais aderência) chega no limite.

Utilizar pneus mais largo no QQ, portanto, ao contrário do que possamos imaginar, requer mais cuidado em curvas do que o original. Custa mais a desgarrar (talvez até não desgarre), mas se a suspensão estiver no final do curso e o carro precisar "usá-la" (um pequeno buraco, uma manobra adicional,...), não há margem para isso e o carro tomba.

Alô Alex, parabéns pela brilhante explicação sobre a influência dos pneus na estabilidade dos veiculos.

Revendo os vídeos é possível notar que mesmo nas manobras mais radicais em marcha a ré, o QQ nunca tira as rodas dianteiras do chão, ele sempre desgarra de traseira, portanto devo supor que ao trocar somente os pneus da frente por 165X70r13 essa característica não deverá ser afetada e dessa forma se conseguiria elevar a frente do carro sem prejudicar a sua estabilidade.

Imagino que se os adeptos de manobras radicais descobrirem que o QQ ganha até do Honda Civic ele irá se tornar o carro preferido para realizar façanhas dessa espécie.

Um abraço.

A suspensão traseira do QQ foi projetada sob um conceito bem antigo, apesar de resistente e barata. Este projeto de eixo rígido com barra panhard, sem tração (claro, o carro tem tração dianteira...), já era utilizado no Corcel/ Del Rey, projeto original Renault lá dos anos 60. Até os velhos Passat dos anos 70 já tinham conceito mais moderno, com a barra panhar colocada em diagonal, funcionando também como braço de reação. Trata-se de um conjunto adequado para a cidade e médias velocidades em estrada, mas tende a saltar muito em função da elevada massa não suspensa (o próprio eixo é muito pesado). Dentro do conceito do QQ está bem adequada.

Já a suspensão dianteira é bem mais moderna, embora convencional. Conceitualmente é até mais moderna que a do Celta, pois tem barra estabilizadora (como toda legítima McPherson). Se fosse calibrada de forma mais rígida a estabilidade melhoraria bastante, mas o carro ficaria bem mais duro.

Pneus maiores na frente não farão muita diferença em uma condução normal, sem exageros. No limite, entretanto, poderão ocasionar o que relatei em meu post anterior, atrasar demasiadamente o desgarre. O fato de utilizar os pneus normais atrás apenas poderá tornar o carro sobresterçante (tendência a sair de traseira no limite de aderência), característica mais difícil de corrigir que a tendência normal do QQ à subviragem (tendência a sair de frente). Vai muito do modo de conduzir de cada um.

Aproveitando essa ótima "aula" Alex ( se não for tomar muito seu tempo ) ouvi dizer no forum do QQ que com os pneus 175/70/R13 ( como exemplo ) foi feito curvas a 140 km/h e não gerou sensação de instabilidade , mesmo com os buffers e esses pneus maiores que melhoram a rodagem e possivelmente a estabilidade , você recomendaria deixar o carro "original" ( sem buffers e com os 155/65/R13 ) ?

Como eu disse acima, Pedro, depende muito de como o carro é conduzido.

Fazer uma curva a 140 Km/h não quer dizer muita coisa, pois não sabemos o diâmetro da curva, o tipo de asfalto, etc... Também já fiz curvas a 140 Km/h com rodas e pneus originais, curvas com longo raio e asfalto perfeito, em auto-estrada. Até de Fusca (dos antigos) é possível (difícil é chegar aos 140...). Por outro lado, subindo uma serra com curvas fechadas e asfalto ruim (exemplo extremo), fazer uma curva a 70 Km/h já pode ser temerário até para um Porsche. Conheço uma serra em Santa Catarina (a lindíssima serra do Rio do Rastro) onde o limite de 60 Km/h dificilmente é atingido pelos carros, não se passando de 40 Km/h.

Há uma confusão muito grande entre estabilidade e dirigibilidade. Não há qualquer dúvida que o QQ tem sua dirigibilidade melhorada com pneus mais largos e altos. O maior diâmetro final das rodas possibilitará que ele enfrente melhor os buracos e lombadas. A maior área de contato com o solo fará com que ele sacuda menos. Será um carro mais agradável de conduzir. Mas o que coloco é o fato desta maior área de contato com o solo aumentar, obviamente, a aderência do carro. E este aumento de aderência não é previsto pela suspensão que, ao contrário, já está no limite pela sua maciez, chegando ao final de curso com muita facilidade. Isto faz diminuir a estabilidade final do QQ.

A questão dos buffers é bem complexa. Como qualquer componente que altera a suspensão, todo o sistema deveria ser estudado antes de se proceder alguma alteração, como fez a Fiat com o Mille Economy (relatei acima) ou a como a VW fez ano retrasado com o Gol Ecomotion. Qualquer sistema de suspensão convencional trabalha com a dupla mola / amortecedor. Um deve ser adptado ao outro. Mola mais dura, amortecedor mais duro. Mola mais mole, amortecedor mais mole. As oficinas de suspensão sabem bem disso. Quando se rebaixa um carro, por exemplo, se o trabalho for bem feito (troca de molas) os amortecedores são trocados. No caso dos buffers, na prática estamos deixando as molas mais duras, mas os amortecedores originais são mantidos. Isto, sem dúvida, melhora a dirigibilidade. Mas, em uma curva fechada, por exemplo, as molas mais duras (buffers) vão naturalmente fazer o carro inclinar menos, mas, se o carro enfrentar uma ondulação, essas molas vão reagir com mais força e criar um movimento extra no carro. Aí entra o trabalho dos amortecedores, anulando estes movimentos extras. Mas os amortecedores do QQ estão preparados para molas macias, não duras. Em situações extremas o carro pode reagir como se estivesse com amortecedores fracos ou gastos. Outra questão dos buffers é a redução do curso das molas. Em uma curva fechada, e associada a uma utilização de pneus mais largos, isso pode ser perigoso, pois o carro vai "tentar" inclinar mais antes de desgarrar (seguro pelo maior atrito dos pneus), mas as molas duras não vão deixar ou, o que é ainda pior, a suspensão poderá chegar mais cedo ao final de curso e o centro de gravidade do carro não terá opção, vai virar o carro.

Vamos simular uma situação hipotética: um QQ todo original (pneu 155 sem buffers) e outro com pneu 165 com buffers em uma mesma curva. O original deverá entrar na curva sacudindo bastante em função da suspensão macia e, em determinado momento, vai simplesmente desgarrar. Digamos que isso ocorra a 80 Km/h. Já a uns 75 Km/h os pneus começarão a "cantar" permitindo ao condutor fazer alguma coisa (esterçar mais e acelerar, aliviar o pé, não importa). Já o QQ com buffers e pneus mais largos, vai entrar na curva sem sacudir e provavelmente não vai desgarrar a 80 Km/h, nem "cantar" pneus a 75 Km/h. Mas quando atingir o final de curso da suspensão (digamos a uns 90 Km/h), sem avisar, poderá simplesmente tirar uma ou duas rodas do chão (lado interno da curva), tornando bem mais difícil (quase impossível) a correção. O problema todo é que nunca sabemos qual a velocidade limite para se entrar em uma curva, e a descoberta deste limite reserva reações bem diferentes para os dois carros aqui abordados.

Por isso que, em minha opinião, a utilização de buffers e pneus mais altos/ largos é uma opção para melhorar a dirigibilidade, não a estabilidade.

Agora ficou tudo muito claro , muito obrigado Alex

Prof. Alex Oliveira, seus textos são sempre um prazer de serem lidos pelo esmero da redação, coerência e qualidade da informação!

Caro Alex,

Acho que, além de moderador, vamos criar aqui, especialmente para você, o "cargo" de consultor técnico oficial do fórum. Isso é que é conhecimento. Meus parabéns e, enquanto administrador, agradeço sua boa vontade em transmitir seus conhecimentos aos participantes.

Sempre à disposição dos amigos do forum!

Penso que a colocação dos buffers e pneus 165X70R13 seja válida apesar dos possíveis problemas de estabilidade que isso possa vir a acarretar, principalmente porque se trata de alterações que podem ser desfeitas sem maiores despesas se a dirigibilidade ou a estabilidade forem prejudicadas.

No meu caso fiquei com os pneus originais e ainda adquirí mais uma roda com pneu, de modo que posso fazer o carro voltar ao que era a qualquer momento basta tirar as rodas com pneus altos e colocar as outras com pneus normais. Para tirar os buffers, se for preciso, basta uma chave de fenda.

Quanto a gente ouve aquela pancada e pensa que chegou ao fim do curso da suspensão, não é bem isso, é que o QQ tem batentes altos e sanfonados - segundo a CSS feitos de Urethano - que ao bater na estrutura do carro fazem esse barulho forte, mas a suspensão ainda tem um bocado de curso. O antigo Renault Dauphine contornava esse problema com batentes que eram bolsas cheias de ar e que também não aguentavam nas nossas estradas.

Sobre os buffers, na minha opinião, a sua colocação não alterou quase nada o comportamento do carro, aquele plástico é bem flexivel, a gente consegue amassa-lo com a mão e não creio que vá fazer grande diferença a não ser psicologica.

Também imagino que com pneus com maior tração, o carro não irá parar de desgarrar, se a suspensão chegar mesmo ao fim do curso, outros veiculos com esse mesmo problema -curso curto- desgarram mesmo usando pneus largões Ex: a kombi e a Asia Towner que adoram levantar uma das rodas, aliás as duas se dão muito bem em ladeiras e serras.

Para descobrir se a estabilidade piora ou melhora alguém vai ter que experimentar, sugiro fazer isso num campo de futebol de várzea com bastante poeira solta, que é onde os carros rodopiam facilmente sem botar a vida ne ninguem em risco.

Um abraço.

parabéns alex muito obrigado pelos textos são excelentes estou sempre aprendendo e lendo-os obrigado pelo que você faz por nós nos xiling-ling que temos o meu é o QQ