Uma característica muito agradável no QQ é a disponibilidade de torque em baixa rotação, traduzida em uma boa retomada de velocidade (considerando, é claro, sua categoria).
Normalmente associamos motores multivalvulados (caso dos motores Acteco com 4 válvulas por cilindro) à baixa disponibilidade de torque em rotações menores. E, geralmente, os fabricantes aproveitam mesmo o maior número de válvulas para aumentar a potência nos giros mais altos. Porém, na verdade, o maior número de válvulas permite ao motor "respirar" melhor em uma faixa de rotações pré-determinada pelo fabricante. Se houver um comando de válvulas e/ou um coletor de admissão variável, essa faixa se torna bem mais elástica. Ou, então, o fabricante pode simplesmente optar por fazer o motor "respirar" melhor em uma faixa de giros mais baixa priorizando a elesticidade.
No caso do motor Acteco SQR472 que equipa o QQ, a faixa útil de rotações é muito ampla. O torque máximo situa-se entre 3500 e 4000 RPM, ainda bem longe da potência máxima (6000 RPM). O motor, apesar de ser multivalvulado e não contar nenhum sistema de variação de fase, foi projetado para entregar mais torque e menos potência. Esta característica permite ao QQ oferecer uma elasticidade muito boa, considerando seus 1100cc.
O motorista brasileiro, de forma geral, costuma "comprar potência e dirigir torque". Gosta de escolher o motor mais potente à disposição, não se importando que sua faixa de giros seja menor. Depois, ao dirigir, costuma reclamar que o carro não tem elasticidade quando precisa retomar velocidade, mas não tem o hábito de reduzir a marcha para devolver ao motor sua melhor faixa útil. Os fabricantes, sabendo disso, encurtam as relações de marchas e priorizam os motores com apenas 2 válvulas por cilindro, aumentando o consumo dos carros. Um exemplo disso são os carros 1.0 da GM, como o Celta ou o Classic, que embora ofereçam 77 cv (a barulhentos e vibrativos 6400 RPM), apresentam seus 9,7 mKgf de torque a elevadíssimos 5200 RPM. O torque é parecido com o do Acteco 1.1 do QQ, mas disponibilizado em rotação muito superior. Para agradar ao motorista brasileiro, precisam contar com marchas muito curtas para não perder elesticidade. No final, mesmo com essas relações curtas, o motorista do GM acaba nem utilizando seus 77 cv, pois a rotação onde eles se encontram é irritantemente elevada. Mas ele sabe que os 77 cv "estão lá".
Também já tive um Gol 1.0 16V. Apesar de muitos falarem mal deste motor, eu o considerava excelente, desde que bem cuidado (e ele á muito exigente quanto a isso, requerendo óleo sintético com bastante frequência, limpezas constantes, etc...). Sua manutenção é cara, mas oferece 76 cv com gasolina a 6000 RPM (acredito que com alcool chegaria a uns 80 cv). Porém, seu torque máximo se encontra a elevados 4250 RPM. Nunca troquei tanto de marchas em minha vida automotiva. Europeus gostam e estão acostumados com isso. Mas, aqui no Brasil, ainda se prefere um carro que permita acelerar de 60 a 100 Km/h em quinta marcha, mesmo que seu motor seja 1.0...
Se a Chery quisesse, poderia mudar o diagrama de válvulas do Acteco 1.1 para ganhar potência. Talvez chegasse a 80 cv obtidos a uns 6400 rpm, mas além do ruído e da vibração se tornarem muito elevados, a faixa de torque ficaria muito restrita, deixando o motor com pouca elasticidade. Portanto, em minha opinião, melhor deixar como está, apenas 68 cv, mas com boa elasticidade.